domingo, 27 de agosto de 2017

Miradouro de S. Leonardo da Galafura

Entre o Peso da Régua e o Pinhão, podemos encontrar o o alto de São Leonardo e a respectiva capela, local que nos proporciona uma vista soberba sobre o vale do rio Douro, recortado pelos socalcos de onde nasce o tão afamado vinho do Douro. Não terá sido por acaso que este local terá inspirado tanto Miguel Torga para a sua escrita. Este era um dos locais predilectos de Miguel Torga para se inspirar e admirar o rio Douro. 
Quem visita o local, pode ler nas placas de azulejo expostas no miradouro:

S. Leonardo de Galafura, 8 de Abril de 1977
«O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. Socalcos que são passados de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor pintou ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis de visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta.»

                                                                                    Miguel Torga in "Diário XII"


ou ainda:

São Leonardo da Galafura

À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.

Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.

Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

            Miguel Torga


As imagens falam por si...






















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